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Para Helena - Edgar Allan Poe


Edgar Allan Poe (1809-1849)

O americano Edgar Allan Poe é um dos meus escritores favoritos. Seus contos foram decisivos na minha vida. Apenas Machado de Assis, Julio Verne e George Orwell receberam tanta dedicação durante a minha juventude que o autor de O Corvo, Os assassinatos na Rua Morgue, Ligeia, Berenice, O retrato ovalado , O barril de amontillado e muitos outros. Não sou qualificado para analisar poesia e nem sou um grande leitor do gênero, mas em alguns poemas do Poe as palavras me parecem tão adequadas que a própria estrutura do poema desaparece durante a leitura, deixando apenas o "clima" a influenciar o leitor profundamente. 

Edgar Allan Poe constrói um universo tão marcante ao redor dos seus personagens estranhos -- muitas vezes nem pessoas são -- , que sua poesia sensibiliza até um analfabeto como eu.

Para Helena - Edgar Allan Poe

        Vi-te uma vez, só uma, há vários anos,
        já não sei dizer QUANTOS, mas NÃO MUITOS.
        Era em junho; passava a meia-noite
        e a lua, em ascensão, como tua alma,
        nos céus abria um rápido caminho.
        O luar caía, um véu de seda e prata,
        calma, tépida, embaladoramente,
        em cheio, sobre as faces de mil rosas,
        que floreciam num jardim de fadas,
        onde até o vento andava de mansinho.
        Caía o luar nas faces dessas rosas,
        que morriam, sorrindo, no jardim
        pela tua presença enfeitiçado.

        Toda de branco, vi-te reclinada
        sobre violetas; e o luar caía
        sobre as faces das rosas, sobre a tua,
        voltada para os céus, ai! de tristeza!

        Não foi o Destino, nessa meia-noite,
        não foi o Destino (que é também Tristeza)
        que me levou a esse jardim, detendo-me
        com o incenso das rosas que dormiam?
        Nenhum rumor. O mundo silenciava.
        Só tu e eu (meu Deus! Como palpita
        o coração, juntando estas palavras!) ...
        Só tu e eu... Parei... Olhei...
        E logo todas as coisas se desvaneceram.
        (Lembra-te: era um jardim enfeitiçado.)

        Fugiu a luz de pérola da lua.
        Os canteiros, os meandros sinuosos,
        flores felizes, árvores aflitas,
        tudo se foi; o próprio odor das rosas
        morreu nos braços do ar que as adorava.

        Tudo expirara... Tu ficaste... Menos
        que tu: a luz divina nos teus olhos,
        a alma nos olhos para os céus voltados.
        Só isso eu vi durante horas inteiras,
        até que a lua fosse declinando.
        Ah! que histórias de amor se não gravavam
        nas celestes esferas cristalinas!
        que mágoas! Que sublimes esperanças!
        que mar de orgulho, calmo e silencioso!
        e que insondável aptidão de amar!

        Mas, afinal, Diana se sepulta
        num túmulo de nuvens tormentosas.
        Tu, como um elfo, entre árvores funéreas,
        deslizas, Só TEUS OLHOS PERMANECEM.
        NÃO QUISERAM fugir e não fugiram
        Iluminando a estrada solitária
        de meu regresso, não me abandonaram
        como fizeram minhas esperanças.

        E ainda hoje me seguem, dia a dia.
        São meus servos – mas eu sou seu escravo.
        Seu dever é luzir em meu caminho;
        meu dever é SALVAR-ME por seu brilho,
        purificar-me em sua flama elétrica,
        santificar-me no seu fogo elíseo.
        Dão-me à alma Beleza (que é Esperança).
        Astros do céu, ante eles me prosterno
        nas noites de vigília silenciosa;
        e ainda os fito em pleno meio-dia,
        duas Estrelas-d'Alva, cintilantes,
        que sol algum jamais extinguirá.

"Para Helena" - Edgar Allan Poe. Boston, 19 de Janeiro de 1809 - Baltimore, 7 de Outubro de 1849.


Camiseta Edgar Allan Poe - O Corvo

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Um comentário:

  1. Se você soubesse o quanto amo este escritor. Assisti o Filme O CORVO várias vezes... Tanto o antigo como o atual. Gosto imenso... Suas histórias sãi sempre inteligentes e empolgantes, além de mexer e remexer na alma dos homens...
    Um grande abraço. Sempre que posso gosto de passar por aqui...

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